segunda-feira, agosto 29, 2005

Artifícios de Felicidade

Hoje eu tive medo do futuro. Parei pra pensar nele e me senti perdida, pequena. Uma vez me disseram que eu seria uma mulher muito bem sucedida. Que me sairia muito bem na vida profissional e que eu seria, de fato, uma pessoa de sucesso.


Hoje eu me lembrei disso e percebi o quanto é difícil imaginar uma situação sem ao menos ter um ponto de partida. Sei que ainda estou nova, que tenho muito tempo pra errar, pra aprender com meus erros e pra levantar, quando a vida me passar rasteiras. Mas, neste exato momento, é frustrante imaginar um futuro grandioso sabendo que nem tenho condições de começá-lo. O futuro começa no presente, e o meu não tem me trazido muitas esperanças.


Tá, tá, eu sei que esse texto tá muito pessimista.


Apesar de não ter um emprego, de estar passando por momentos de submissão financeira e imposição de limites que eu não precisaria sofrer se tivesse meu próprio dinheiro, me considero uma pessoa feliz - afinal de contas, a felicidade não se mede apenas pela disponibilidade de dinheiro. Mas não gostaria de entrar nesse mérito e imaginar uma balança pesando coisas boas e ruins. Tenho medo de que o lado ruim seja mais pesado.


Tenho uma mãe maravilhosa, tenho amigos que me amam, tenho saúde e me divirto como posso. Não ando de ônibus, tenho carteira de motorista (atualmente vencida, mas isso é detalhe), tenho TV e meu PC no quarto, com internet banda larga. Tenho celular com visor colorido e toques polifônicos (ele só não filma, até porque nem precisa, eu tenho uma câmera digital). Coisas normais nos dias atuais que eu considero pequenos luxos. Tenho tesouros pessoais, tenho meus valores, tenho amor pra dar - e realmente acho que isso seja uma grande riqueza.


Em contrapartida, perdi a conta das minhas contas, já até esqueci o quanto devo (mas todo dia me lembram). Meu dinheiro só dá pra sair uma vez por semana, o que me obriga a dividir as saídas em escalas de humor: se tô feliz, não bebo e saio pra lugares que não cobram pra entrar ou não tenham cantores (nada de couvert). Estando alegre, dá pra bater papo e fazer graça (de graça). Se tô triste, eu bebo mesmo - mas bebo pinga, que é barato e deixa tonto rapidinho. E se puder ser ao som de uma BOA música sertaneja, melhor ainda. Bom, também não tenho namorado, o que seria motivo suficiente pra pender definitivamente a balança pro lado ruim. Mas disso eu falo outra hora porque não dá pra ficar triste agora (meu saldo atual não dá nem pra meio dedo de pinga no bar do zé).


Me faltam muito mais coisas, mas acho que não compensa mencionar.


Já disseram (não me lembro quem) que não ter algumas coisas que desejamos é parte indispensável pra se chegar à felicidade. Acho que, não tendo tudo, a gente encontra no desejo forças pra obter o que queremos. Sonhamos, divagamos, escrevemos sobre, lutamos, conseguimos. E é por isso que os alvos de felicidade são sempre temporários.


Quando o dia termina, eu penso em tudo que ainda não vivi. Penso em tudo que me move a chegar num lugar de vitória. E, antes de dormir, eu olho pela janela e vejo fogos de artifício. E então eu sinto que a felicidade não é inacessível - ela está ao alcance das minhas mãos e que agarrá-la só depende de mim.
(texto escrito em 13 de agosto de 2005, à 01h34)

3 comentários:

Anônimo disse...

sempre nos falta algo. sempre queremos mais. e é esta busca que torna tudo mais divertido... e vamo que vamo.

Anônimo disse...

Nossa que texto! Achei muito bem escrito, coisas de quem lê bons autores...rsrs

Concordo com quase tudo que vc disse, gosto muito da ideia de buscar sempre melhorar a vida e mesmo assim nao desfazer do que já se construiu, daquilo que temos e das pessoas que nos rodeiam. Isso é o mais importante na vida! pra os momentos mais daw lembro do poema (que por causa da minha memoria que se comporta como uma vaga lembrança, esqucei o autor) "se as coisas sáo inatingiveis ora, náo é motivo para nao querê-las. Que tristes os caminhos se nao fosse a mágica presença das estrelas" lembrei...rs é do Mário quintana.

Beijo Pra vc

Roni Cavalcante

Anônimo disse...

Adoro teu senso de humor. É afinadíssimo. Passar aqui e ler o que você escreve, vicia. Você já pensou em escrever? É! Escrever. Acho que ia fazer sucesso.
Beijos! Boa semana, Mila MEL! :)
Ps: Tô com a vida muuuuito corrida, mas sempre passo por aqui...